PROCESSO CONTAMINADO – Advogados pedem que Justiça francesa não coopere com a “lava jato”

Por Sérgio Rodas

Os advogados de Lamine Diack, ex-membro do Comitê Olímpico Internacional (COI), pediram que a Justiça da França não aceite cooperação internacional com a “lava jato”. Isso porque o Ministério Público Federal e a Polícia Federal tiveram acesso, por autorização do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, a documentos do escritório Teixeira Zanin Martins Advogados, que representa Diack no Brasil.

O MPF acusa Diack de receber US$ 2 milhões para votar para que o Rio de Janeiro fosse eleito cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

No bote contra a advocacia comandado por Bretas, MPF e PF fizeram busca e apreensão no Teixeira Zanin Martins Advogados. Os advogados franceses sustentam que os investigadores podem ter tido acesso a documentos da defesa de Diack no Brasil, violando o sigilo da comunicação entre cliente e defensor.

Além disso, os advogados franceses argumentam que os procuradores e juiz (Marcelo Bretas) que atuaram no ataque contra a advocacia são os mesmos que trabalham na ação penal contra o ex-integrante do COI.

Com os mesmos argumentos, os defensores franceses afirmaram, aos relatores da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Independência do Judiciário e Direitos Humanos, temer que o processo contra Diack não seja conduzido de forma imparcial.

Segundo eles, o ataque contra a advocacia é um exemplo claro de violação ao Estado Democrático de Direito e uma retaliação contra os defensores.

Imparcialidade questionada

No fim de outubro, o relator da ONU sobre Independência do Judiciário, Diego Garcia-Sayan, enviou ao governo brasileiro carta cobrando explicações sobre as operações de busca e apreensão que miraram advogados e escritórios de advocacia.

No documento, Garcia-Sayan questiona a imparcialidade do juiz Marcelo Bretas, responsável por ordenar as operações, e a proximidade do magistrado com o presidente Jair Bolsonaro. 

“Estou alarmado com uma aparente estratégia de alguns promotores e juízes de intimidar advogados por fazerem seu trabalho, particularmente quando estes defendem políticos. Parece que os advogados Roberto Teixeira e Cristiano Zanin Martins foram visados como parte desta estratégia coordenada”, diz a carta, em referência aos defensores do ex-presidente Lula. 

Ainda de acordo com o documento, “a forma espetacular como a polícia realizou as buscas — com ampla cobertura de jornalistas que haviam sido avisados previamente —  parece ser parte de uma estratégia destinada a desacreditar os advogados diante de seus pares, clientes e o público em geral”. 

“Juízes não deveriam se colocar em uma posição em que sua independência ou imparcialidade possa ser questionada. A fim de preservar a confiança pública no sistema judicial, é necessário que os juízes se abstenham de qualquer atividade política que possa comprometer sua independência ou comprometer a aparência de imparcialidade. A imparcialidade é essencial para o bom desempenho da função judicial”, prossegue. 

O documento lembra, por fim, que o Órgão Especial do Tribunal Regional Federal da 2ª Região decidiu, por 12 a 1, que o apoio aberto demonstrado por Bretas ao presidente Bolsonaro é incompatível com suas obrigações profissionais.

Fonte: Consultor Jurídico

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